quinta-feira, 31 de julho de 2008

Efeito Canguru


Efeito canguru
Mulheres (e homens) aderem aos carregadores de pano e relatam
benefícios como fortalecimento do vínculo com a criança e até alívio
das cólicas

RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

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É PRECISO VERIFICAR REGULARMENTE O ESTADO DA COSTURA E DO
TECIDO DO CARREGADOR E EVITAR QUE O PANO CUBRA O ROSTO DO BEBÊ
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Durante os cinco meses em que ficou afastada do trabalho após o
nascimento de Pedro, hoje com dois anos e oito meses, e de Luana,
oito meses, a estatística Relze Fernandes, 32, carregou os filhos
para cima e para baixo. E, segundo diz, não precisou deixar nenhuma
atividade de lado por causa disso. “Colocava o “sling” de manhã e
passava o dia todo com ele. Na única vez em que esqueci,
fiquei “podre” de levar meu filho no colo. Usava tanto que não
conseguia tirar nem para lavar”, diverte-se.
Assim como as mães-celebridades Julia Roberts e Angelina Jolie, Relze
faz parte de um grupo crescente de mulheres (e homens) de grandes
centros urbanos que está aderindo a carregadores de tecido para
transportar os bebês próximos ao corpo durante passeios e tarefas
rotineiras, um hábito arraigado entre povos de regiões da Ásia e da
África e que tem adeptos também na Europa e na América do Norte.
Além do aspecto prático -liberar mãos e braços do adulto para outras
atividades-, os defensores do “sling” atribuem a ele outras
vantagens, como o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho e a
criação de bebês mais relaxados.
“As mães relatam que seus filhos choram menos e se sentem mais
seguros, além de sentarem e andarem mais cedo”, afirma a pediatra
Jucille Meneses, do departamento científico de neonatologia da
Sociedade Brasileira de Pediatria. “Embora não haja embasamento
científico para indicar o uso do “sling”, o contato com a mãe é
benéfico para o lactente.”
Nos Estados Unidos, o pediatra William Sears, autor de mais de 40
livros, é um dos entusiastas dos carregadores e o responsável por
cunhar o termo “babywearing” (algo como “vestir o bebê”). De acordo
com ele, os bebês “slingados” choram menos, aprendem mais e são mais
espertos.



A modelo Luciane Trapp, 26, que começou a usar o “sling” com
Gabriela, 3, e atualmente carrega Bernardo, de dois meses, tem sua
própria explicação. “O bebê sai da barriga e é colocado em um berço
grande e vazio, o que é muito frio. No “sling”, é como se continuasse
no meu corpo”, diz. “E, se ele quer mamar, é só arrumar o pano que
não dá para ninguém ver. Faço isso até andando.”
A pediatra Jucille Meneses cita outras vantagens da rede: mantém as
pernas do bebê unidas e não altera o desenvolvimento do quadril, o
que pode ocorrer com o uso contínuo da mochila e de modelos tipo
cadeirinha. “Algumas pessoas podem se questionar se o carregador
aumenta a curvatura da coluna vertebral do bebê, mas isso não ocorre.
Ele não leva a vícios de posição”, completa.

Cólicas
O “sling” também costuma ser associado à diminuição das cólicas.
Relze Fernandes, que passou dez meses “slingando” os filhos, atribui
as poucas crises ao fato de eles terem passado muito tempo com as
pernas encolhidas na rede. Para a pediatra, a explicação é outra: as
dores diminuem graças ao fortalecimento do vínculo entre a mãe e o
bebê, “que melhora o ambiente psíquico e, conseqüentemente, as
cólicas”.
Mas nem todo mundo se sente confortável com o carregador. A
psiquiatra Fernanda Moreira, 36, usou com o filho Thiago nos
primeiros meses, mas depois notou que ele não queria mais ficar na
rede. “Ele não gosta de colo deitado, só em pé, até para dormir.
Então, detestou o “sling” logo que passou dos dois meses. Acho que
passou a se sentir meio preso”, diz.
Em relação ao corpo da mãe, há pelo menos uma ressalva. Para Osmar
Avanzi, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e
professor da Santa Casa de São Paulo, não é recomendável usar os
carregadores durante longos períodos para não sobrecarregar a
coluna. “É importante também ter um bom condicionamento físico e
fazer alongamento para evitar dores lombares. Sem falar que, quanto
maior o peso da criança e do próprio adulto, pior a sobrecarga”,
explica.
Outro medo recorrente entre os que olham com desconfiança para os
carregadores, o de criar crianças extremamente dependentes dos pais,
é rechaçado pelas adeptas. “Eu me preocupava muito de voltar a
trabalhar e o Pedro não se adaptar, pois só dormia no “sling”, mas
depois parecia que ele tinha nascido na escola. Ele é muito
independente”, afirma Relze Fernandes.
Vale lembrar que os carregadores são seguros, desde que os pais tomem
alguns cuidados, como verificar o estado da costura e do tecido, não
deixar que o pano cubra o rosto do bebê, não colocar objetos dentro
do “sling” e, por fim, usar o bom senso ao transportar a criança,
segurando-a ao se inclinar para a frente e evitando manipular bebidas
quentes e chegar perto de chamas ou objetos cortantes e pontiagudos.
O uso é contra-indicado ao andar de bicicleta ou dentro do carro.